Friday, January 16, 2009

O bem, o mal e o que a Flora aflora


"Ela alcançou o olhar legítimo do psicopata, da falta de sentimento. Inclina levemente o rosto para baixo e ergue sutilmente os olhos, como um predador", diz a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Mentes Perigosas: o Psicopata Mora ao Lado, usando a foto desta página como exemplo.
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Pois é, gente.
Medo.
Não sei você, mas eu que nem sou das mais noveleiras, me rendi ao fascínio da interpretação de Patricia Pillar nestes últimos capítulos de A Favorita.

Loirinha.
Cachinhos.
Olho azul.
Um anjo.

Dá medo, não dá?
Cada vez que um psicopata "age", me dá medo de mim.
Na verdade acho que todo mundo sente medo de si mesmo nessas situações, porque vê que cada um de nós pode abrigar um monstro adormecido.

Sem querer dramar, mas eu conheço gente que não se apega, não se envolve, foge do sofrimento o quanto pode e consegue ser blasé com as alegrias também.
Será que isso se caracterizaria como ausência de sentimento? A ausência de sentimento é mesmo uma patologia?

A ficção por vezes cuida de nos mostrar situações que ultrapassam o propósito do entretenimento e nos fazem pensar.

Em um episódio da primeira temporada de Desperate Housewives há uma situação meio assim, que me assustou e me chamou muito a atenção. Andrew, o filho rebelde da perfeccionista Bree Van de Kamp, menor de idade, dirigindo embriagado, deixa em coma a sogra da vizinha e amiga Gabrielle Solis, e não parece se abalar um
nada com o mal causado por sua irresponsabilidade.

Transcrevi um diálogo, pra mim assustador, de mãe e filho aqui:

BREE: Andrew, um, I know the last few days have been stressful, and, uh, you know, if you ever need to talk to anybody...
(Andrew, eu sei que os últimos dias tem sido estressantes, e, se você precisar conversar com alguém...)

ANDREW: I know, I know. You and Dad are here for me.
(Eu sei, eu sei... você e papai estão aqui!)

BREE: Actually, I was thinking we could arrange for you to talk to a professional.
(Na verdade, eu estava pensando que nós poderiamos providenciar pra que você converse com um profissional.)

ANDREW: A shrink? You think I'm crazy?
(Um psiquiatra? Você acha que eu sou louco?)

BREE: Of course not. It’s just that the accident probably stirred up a lot of emotions, and it would be normal for you to be feeling confused or depressed or ashamed...
(Claro que não. É só que o acidente provavelmente desencadeou muitas emoções, e seria normal que você se sentisse confuso, ou envergonhado...)

ANDREW: I'm cool, mom. Really.
(Tô bem, mãe, sério...)

BREE: Honey, you put a woman into a coma. Surely that arouses some kind of emotion!
(Querido, você colocou uma mulher em coma. Com certeza isto provoca algum tipo de emoção!)

ANDREW: Yeah, well, it doesn't. Now if you'll excuse me...
(Bom... não provoca. Agora se você me dá licença...)

BREE: No, I won't, not until you tell me.
(Não, não dou licença, não até você me dizer.)

ANDREW: Why do you care?
(Por que você se importa?)

BREE: Because I need to know that you're not a monster!
(Porque eu preciso saber que você não é um monstro!)

ANDREW: You want to know how I feel?
(Você quer saber como eu me sinto?)

BREE: Yeah.
(Sim.)

ANDREW: Okay, here it goes. I feel bad that she got hurt. But I also feel bad that my car got dinged because somebody didn't have enough sense to look both ways before she crossed the street. And I also feel bad that now I'm gonna have to ride my bike to school.
(Ok, lá vai. Me sinto mal que ela esteja ferida. Mas eu também me sinto mal que eu tenha perdido meu carro porque alguém não teve senso suficiente para olhar para os dois lados antes de atravessar a rua. E eu me sinto mal também por ter que ir pra escola de bicicleta agora.)

BREE: Andrew, you almost killed another human being.
(Andrew, você quase matou outro ser humano.)

ANDREW: She’s an old lady. Okay? She’s lived her life. I have my whole life ahead of me, and now it might be screwed up! That’s what you should be worried about!
(Ela é uma velha senhora. Ok? Ela já viveu a vida dela. Eu tenho minha vida toda pela frente, e agora eu posso estar encrencado. É com isso que você devia se preocupar!)

BREE: What I'm worried about, Andrew, is that you don't seem to have a soul. Give me one good reason why I shouldn't call the police!
(O que me preocupa, Andrew, é que você parece ser desprovido de alma. Me dê uma razão pela qual eu não deveria chamar a polícia!)

ANDREW: Because I'm your son. That would make you the monster.
(Porque eu sou seu filho. Isto faria de você, o monstro.)

He walks out.
Ele sai da sala.

Eu não sei de verdade qual é o meu propósito, o que eu, eu mesma, teria a acrescentar aqui.

O que eu sei é que mais e mais eu procuro me cercar de gente que pelo menos pareça provido de alma.
Eu quero que o normal seja cada um pensar em si e amar a si mesmo, mas nunca de um modo demasiado mesquinho e egoísta.
Que os pais consigam detectar estes sinais nos filhos, se houverem, e cuidem de tratar o mal pela raiz, criando crianças responsáveis pelos seus atos, valorizados pelos bons, e conscientizados, senão punidos, pelos maus.

Há um valor que anda cada vez mais esquecido nas relações familiares, chamado respeito.
Alguns pais têm medo dos filhos, e a eles simplesmente acatam, temerosos de - agindo de maneira diferente - perder seu amor.

Ainda não sou mãe, mas peço a Deus que me dê discernimento e força pra botar nesse mundo uma criatura amável, provida de alma e de bons sentimentos.

Nada pode ser pior do que a ausência de sentimentos. Ok. Talvez a impotência de não se conseguir lidar com os "desalmados", uma vez que nada, nunca, irá atingi-los.

É, Flora e Andrew me puseram pra pensar...

2 comments:

Tá acabando.... said...

Criatura, cadê vc no Iogurte?!?!?!
Faz isso não menina, como vou saber quando vc postou pérolas literárias???
Favor me responda quase que imediatamente no meu email:
flaviamaedajulia@yahoo.com.br.
Brincadeira,
Flávia

Fernanda MBem said...

Afh!
Adorei seu texto.
Tanto que comento duas vezes, nesse e no novo, que já comentei tmb! E se precisar comento mais!

É nêga...
Evil is everywhere.
Assusta, né?
Mas preocupa não, a gente se garante contra os psycos aí afora, ou aflora!
Há!

E olha, o que a irmã de Paduwants, a Flávia Paduwants tá fazendo aqui?
Não sabia desse degree of separation...

GOSTO!