Saturday, January 31, 2009

Silêncio, Por Favor! - Postando e Comentando V


Eu acho que eu já nasci falando.
É coisa do signo, dizem, esse tal de dom de eloquência - sem trema - que me persegue desde poucos meses de idade.
Uma membra ativa do SINDIPRÊNCIO - Sindicato dos Preenchedores do Silêncio - ele, este último, sempre me incomodou.

Vivo cercada de gente por todos os lados.
Gente fala, eu falo, mulher fala mais que gente.
Muitas vezes erro na mão e falo demais.
Me exponho, causo desastres, pra tentar consertar há que se falar mais e de repente piora.

Então que nesse tempo de resoluções de ano novo - e não me diga que tá tarde! - eu resolvo...
Ouvir mais.
Falar menos, se der. Como consequência, vai... já é o primeiro passo.

Não por coincidência, saiu na TPM de dezembro uma ótima reportagem sobre o tema.
Eu gostei mais mesmo foi do editorial, que é o que eu copio aqui, mas no fim eu boto o link da reportagem completa e você lê.
Ou não.

Eu vou ler mais umas vezes sim.
Tenho medo que me coloquem na nave e me mandem de volta.
Cruzes.

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Um povo conhecido como dogon vive no Mali e em Burkina Fasso, na África ocidental. Não, você não está assistindo ao Discovery Channel. A história tem a ver com esta edição da Tpm. Calma aí.

Pois bem, os dogons acreditam que cada um nasce com determinada quantidade de palavras na barriga. Durante a vida, em conversa fiada, papo sério ou pedido de casamento, se gasta o verbo. A pessoa morre quando o estoque chega ao fim e fica, literalmente, sem palavras. Se no princípio era o verbo, no fim é o silêncio.

Se a gente juntar esse mito com outro mito (aquele de que mulheres falam mais do que homens), fica difícil explicar a longevidade feminina. Ou será que elas não tagarelam mais do que eles? Na página 38, a reportagem “Silêncio!” discute se a verborragia – seja cara a cara, por celular, Messenger, Skype, chats ou Twitter – é mesmo um problema de gênero.

Entre depoimentos e pesquisas, alguns números tentam medir o blá-blá-blá diário. Mesmo com grandes variações, em pelo menos três estudos as mulheres falam mais do que os homens. Um deles garante que elas pronunciam 7 mil palavras por dia, enquanto eles se contentam com 2 mil. Outro anota 25 mil contra 12 mil. Ainda tem um que chega a incríveis 50 mil contra 25 mil. Para que tudo isso? Bom, falar pode ser um jeito de se distrair daquilo que realmente importa, de não prestar atenção em si mesmo, de criar um ruído capaz de afastar a ansiedade. Mas pode ser também uma maneira de trocar idéias, de articular um pensamento, de dizer “sim”.

Ou, simplesmente, de quebrar o silêncio. “O silêncio nos leva às profundezas”, explica a Monja Coen. “Temos medo porque essa penetração pode tocar em pontos essenciais e gerar transformação.”

Melhor, então, aprender a conviver com o silêncio, sem desconforto. Não é fácil. O compositor John Cage que o diga. Ele é o autor de “4’33”” – uma música em que o instrumentista sobe ao palco e, durante 4 minutos e 33 segundos, não toca uma única nota. Som? Só o da platéia se mexendo na cadeira, inquieta com o silêncio, acompanhado daquela tosse nervosa (tem lugar em que se tussa mais do que em sala de concerto?).

Opa, o word count do meu computador indica que já gastei quase 400 palavras. Hora de seguir o conselho do rei espanhol Juan Carlos: “¿Por qué no te callas?”. O resto, como diria aquele eloqüente príncipe da Dinamarca, é silêncio.

Fernando Luna, diretor editorial

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E a Paulinha queria ver a monja lá.
Eu também.


Segue o link aé... http://revistatpm.uol.com.br/83/silencio/home.htm

Friday, January 30, 2009

Por que ninguém me avisou???

http://www.ironicsans.com/owmyeyes/

Huh? Huh?

E aí?
Melhorou?

Wednesday, January 28, 2009

Petit Prince... você vai ter que ser forte!!!


Pois é.
Eu, você e pessoas de 160 línguas ou dialetos diferentes crescemos ouvindo: "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas...".

Tudo culpa da raposa, olha só:

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- Que quer dizer "cativar"?

- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?

- Procuro os homens, disse o principezinho. Que quer dizer "cativar"?

- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?

- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."

- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

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Olha só que pesado, meu povo!

Então é assim? Fica pra mim o peso da responsabilidade pelo sofrimento dos outros todos, certo?

Errado, gente.
Não pode ser assim não!

Então, fox, vou ter que discordar de você.
Não vou comprar essa ideia e achar que todas as pessoas que eu cativei são propriedade minha e eu delas, e que somos res-pon-sá-veis - palavra fuerte! - uns pelos outros.

O que eu mais prezo nessa minha vida é a liberdade de ser só eu. Só eu. Uma só. Seguir o meu coração, deixando ele ser até meio irresponsável quando em vez...

A melhor coisa que tem é deixar solto.
Eu deixo você e você me deixa. Daí quando acontece da gente querer estar juntos, sabe que essa vontade foi mútua e genuína.

Fora outra coisa que eu li uma vez e nunca mais que esqueci, que falava mais ou menos o seguinte: tirante os relacionamentos familiares e os amigos de infância assim, inseparáveis, da vida inteira mesmo, toda pessoa que chega pra você, traz com ela um passado, um histórico, um contexto de vida que simplesmente... não te pertencem!!! E pior: nem você nem ninguém podem mudar. Não dá pra apagar as pessoas e as experiências que fizeram esse passado. É fato. Não adianta chorar.
Afinal, com o outro, coitado, acontece o mesmo em relação a você, você também chegou aí com esse passado todo, que é o que inclusive fez de você essa pessoa cheia de defeitos e qualidades que você é e que ainda assim, ou por isso mesmo, cativa tanta gente.

Então, não tem espaço pra cobrança.
Não tem espaço pra melindre - e olha ele de novo aí gente! - e não tem espaço e acabou.

Vamos cuidar de valorizar os estar junto mútuos e genuínos?
Não vamos botar as nossas decisões e muito menos a nossa vida e nosso destino na mão de ninguém não, que é pra não pesar pra esse pobre essa big dessa responsabilidade aí?

Vamos fazer assim, gente... deixa solto, vai! Deeeeixa correr solto que no fim dá tudo certo!

Monday, January 19, 2009

TOP 5


TOP tanto é tendência que pra mim começou com "Alta Fidelidade", o filme.
Baseado no livro homônimo de Nick Hornby, aquele escritor inglês que curte falar de cultura pop, autor também de "Como ser Legal" e "Um grande garoto" que também virou filme, com Hugh Grant.

Mas ok, em "Alta Fidelidade" o personagem principal curte fazer uns TOP 5 de tudo, inclusive dos foras que ele já levou na vida!

Capaz de eu passar essa, mas vamos ao meu TOP 5 assim, dos últimos tempos, porque DA VIDA é muito profundo, vai que tem mais vida pra frente do que pra trás, fora que tudo muda o tempo todo no mun-u-un-du, e pra uma pessoa de gêmeos - quem é ou convive com um desses, sabe - no balanço das horas tudo pode mudar sim.

TOP 5 LUGARES MAIS LINDOS QUE EU FUI:
1. Hanauma Bay, no Hawaii
2. Grand Canyon
3. Lone Peak, em Big Sky
4. Mangue Seco, na Bahia
5. Tiradentes, em Minas Gerais

TOP 5 LUGARES NO BRASIL QUE EU QUERO IR:
1. Floripa
2. Foz do Iguaçu
3. Morro de São Paulo
4. Ouro Preto
5. Rio, com mais tempo

TOP 5 COISAS DE COMER (FORA):
1. Tudo no Mori Sushi
2. Tudo no Taormina
3. Estrogonofe de banana no Blu (ou na Pati Paduan, dentro!)
4. Filé com Gongonzola no Caldo de Feijão
5. Antepastos no Cafeína
6. Acarajé da Praça Benedito Calixto (6 pode?)

TOP 5 COISAS DE BEBER:
1. Água Fresca no Cafeína (suco de melão, limão e hortelã)
2. Suco de laranja (tá, pode colocar uma dose de vodca)
3. Água com gas
4. Coca normal com gelo
5. Frisantes
6. Caldo de Cana com Limão do Sacolão Higienópolis (6 pode?)

TOP 5 FILMES:
1. Burn after Reading/Queime depois de Ler
2. Vicky Cristina Barcelona
3. Blindness/Ensaio sobre a Cegueira
4. Sex and the City
5. Desafinados
6. Não por Acaso (6 pode?)

TOP 5 LIVROS QUE EU COMPREI E NÃO TERMINEI DE LER:
1. Twilight
2. Eat, love, pray
3. Quando o amor chegou
4. As 10 mulheres que você vai ser antes dos 35
5. Inglês que não Falha

TOP 5 MÚSICAS:
1. You sent me Flying - Amy Winehouse
2. Right as Rain - Adele
3. Warwick Avenue - Duffy
4. Cabide - Mart'nalia
5. Mina do Condomínio - Seu Jorge

TOP 5 BOTECOS E BALADINHAS E SUAS BANDAS:
1. Noites de sábado no Na Mata Café com Frank Elvis e Los Sinatras
2. Noites de quinta no Kiaora com Taboo
3. Tardes de sábado no Municipal com Banda A Cores
4. Tardes de domingo no Municipal com a banda do André, o belo
5. Noites de sábado no Feira Moderna com João Macacão

TOP 5 SHOWS:
1. Ney Matogrosso - Inclassificáveis
2. Seu Jorge, Vanessa da Mata, Ben Harper e Dave Matthews - Projeto About Us
3. Ana Canas
4. Roberta Sá
5. Zeca Baleiro

TOP 5 PROGRAMAS DE TV:
1. CQC (e seu Toooop Five!)
2. Mothern
3. Saia Justa
4. Irritando Fernanda Young
5. Dilemas de Irene
6. Cilada (6 pode?)

TOP 5 SÉRIES:
1. Sex and the City
2. Desperate Housewives
3. Doctor House
4. Private Practices
5. Lost
6. Friends (my bad, Fê! Valeu!)

TOP 5 LOJAS QUE EU GOSTO:
1. Riachuelo
2. Hering
3. Acessorize do Higienópolis
4. M. Officer do Frei Caneca
5. Dona Frô na Benedito Calixto

Um dia eu volto, porque tem muito mais coisa que eu classifico nessa vida, mas não quero me estender agora pra não cansar você.

Tchau.

Friday, January 16, 2009

O bem, o mal e o que a Flora aflora


"Ela alcançou o olhar legítimo do psicopata, da falta de sentimento. Inclina levemente o rosto para baixo e ergue sutilmente os olhos, como um predador", diz a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro Mentes Perigosas: o Psicopata Mora ao Lado, usando a foto desta página como exemplo.
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Pois é, gente.
Medo.
Não sei você, mas eu que nem sou das mais noveleiras, me rendi ao fascínio da interpretação de Patricia Pillar nestes últimos capítulos de A Favorita.

Loirinha.
Cachinhos.
Olho azul.
Um anjo.

Dá medo, não dá?
Cada vez que um psicopata "age", me dá medo de mim.
Na verdade acho que todo mundo sente medo de si mesmo nessas situações, porque vê que cada um de nós pode abrigar um monstro adormecido.

Sem querer dramar, mas eu conheço gente que não se apega, não se envolve, foge do sofrimento o quanto pode e consegue ser blasé com as alegrias também.
Será que isso se caracterizaria como ausência de sentimento? A ausência de sentimento é mesmo uma patologia?

A ficção por vezes cuida de nos mostrar situações que ultrapassam o propósito do entretenimento e nos fazem pensar.

Em um episódio da primeira temporada de Desperate Housewives há uma situação meio assim, que me assustou e me chamou muito a atenção. Andrew, o filho rebelde da perfeccionista Bree Van de Kamp, menor de idade, dirigindo embriagado, deixa em coma a sogra da vizinha e amiga Gabrielle Solis, e não parece se abalar um
nada com o mal causado por sua irresponsabilidade.

Transcrevi um diálogo, pra mim assustador, de mãe e filho aqui:

BREE: Andrew, um, I know the last few days have been stressful, and, uh, you know, if you ever need to talk to anybody...
(Andrew, eu sei que os últimos dias tem sido estressantes, e, se você precisar conversar com alguém...)

ANDREW: I know, I know. You and Dad are here for me.
(Eu sei, eu sei... você e papai estão aqui!)

BREE: Actually, I was thinking we could arrange for you to talk to a professional.
(Na verdade, eu estava pensando que nós poderiamos providenciar pra que você converse com um profissional.)

ANDREW: A shrink? You think I'm crazy?
(Um psiquiatra? Você acha que eu sou louco?)

BREE: Of course not. It’s just that the accident probably stirred up a lot of emotions, and it would be normal for you to be feeling confused or depressed or ashamed...
(Claro que não. É só que o acidente provavelmente desencadeou muitas emoções, e seria normal que você se sentisse confuso, ou envergonhado...)

ANDREW: I'm cool, mom. Really.
(Tô bem, mãe, sério...)

BREE: Honey, you put a woman into a coma. Surely that arouses some kind of emotion!
(Querido, você colocou uma mulher em coma. Com certeza isto provoca algum tipo de emoção!)

ANDREW: Yeah, well, it doesn't. Now if you'll excuse me...
(Bom... não provoca. Agora se você me dá licença...)

BREE: No, I won't, not until you tell me.
(Não, não dou licença, não até você me dizer.)

ANDREW: Why do you care?
(Por que você se importa?)

BREE: Because I need to know that you're not a monster!
(Porque eu preciso saber que você não é um monstro!)

ANDREW: You want to know how I feel?
(Você quer saber como eu me sinto?)

BREE: Yeah.
(Sim.)

ANDREW: Okay, here it goes. I feel bad that she got hurt. But I also feel bad that my car got dinged because somebody didn't have enough sense to look both ways before she crossed the street. And I also feel bad that now I'm gonna have to ride my bike to school.
(Ok, lá vai. Me sinto mal que ela esteja ferida. Mas eu também me sinto mal que eu tenha perdido meu carro porque alguém não teve senso suficiente para olhar para os dois lados antes de atravessar a rua. E eu me sinto mal também por ter que ir pra escola de bicicleta agora.)

BREE: Andrew, you almost killed another human being.
(Andrew, você quase matou outro ser humano.)

ANDREW: She’s an old lady. Okay? She’s lived her life. I have my whole life ahead of me, and now it might be screwed up! That’s what you should be worried about!
(Ela é uma velha senhora. Ok? Ela já viveu a vida dela. Eu tenho minha vida toda pela frente, e agora eu posso estar encrencado. É com isso que você devia se preocupar!)

BREE: What I'm worried about, Andrew, is that you don't seem to have a soul. Give me one good reason why I shouldn't call the police!
(O que me preocupa, Andrew, é que você parece ser desprovido de alma. Me dê uma razão pela qual eu não deveria chamar a polícia!)

ANDREW: Because I'm your son. That would make you the monster.
(Porque eu sou seu filho. Isto faria de você, o monstro.)

He walks out.
Ele sai da sala.

Eu não sei de verdade qual é o meu propósito, o que eu, eu mesma, teria a acrescentar aqui.

O que eu sei é que mais e mais eu procuro me cercar de gente que pelo menos pareça provido de alma.
Eu quero que o normal seja cada um pensar em si e amar a si mesmo, mas nunca de um modo demasiado mesquinho e egoísta.
Que os pais consigam detectar estes sinais nos filhos, se houverem, e cuidem de tratar o mal pela raiz, criando crianças responsáveis pelos seus atos, valorizados pelos bons, e conscientizados, senão punidos, pelos maus.

Há um valor que anda cada vez mais esquecido nas relações familiares, chamado respeito.
Alguns pais têm medo dos filhos, e a eles simplesmente acatam, temerosos de - agindo de maneira diferente - perder seu amor.

Ainda não sou mãe, mas peço a Deus que me dê discernimento e força pra botar nesse mundo uma criatura amável, provida de alma e de bons sentimentos.

Nada pode ser pior do que a ausência de sentimentos. Ok. Talvez a impotência de não se conseguir lidar com os "desalmados", uma vez que nada, nunca, irá atingi-los.

É, Flora e Andrew me puseram pra pensar...

Sunday, January 11, 2009

Desapego, ma non troppo ou O maior post do mundo


Depois de três excelentes dias de "férias" em São Paulo, voltei pra Minas na manhã de ontem, pra participar da missa de sétimo dia da minha Tia Lucy.

Como com tudo nessa vida a gente aprende alguma coisa, dessa vez não seria diferente.

A minha Tia Lucy sempre foi pra todos nós, meio coadjuvante, em relação à grande estrela Vó Jalé. Meu Vô Pipe morreu antes de eu nascer, meu tio Silvio já era casado e minha mãe também, então Tia Lucy e Vó Jalé viraram uma só, há coisa de quarenta anos.

Meu Tio Silvio morreu de um câncer de pele com metástase no cérebro que o levou embora em menos de três meses. Isso foi há doze anos.

Tia Lucy e Vó Jalé seguraram uma à outra, mais unidas do que nunca.

Vó Jalé, depois de 98 anos muitíssimo bem vividos - eu disse MUITÍSSIMO bem vividos - se foi também, há um ano e meio, deixando um vazio tão grande, tão grande, tão grande e uma saudade que eu acho que nunca vai passar.

A Tia Lucy ficou lá, coadjuvante de mais nada, levando a vida dela sozinha. Pregando aos quatro cantos que estava bem, que não queria morar com uma nem com outro, que se cuidava.

Não. Não se cuidava.
Não. Não estava bem.

Eu aprendi que os vazios, as dores, a saudade, são coisas que levam tempo pra cicatrizar, e que sozinho, leva mais tempo ainda. Dói mais.

Eu tenho muito certo pra mim que eu gosto de ser independente e de viver sozinha, mas que eu não quero isso pra sempre.
Eu aprendi também que quando eu sentir que uma pessoa está triste, e principalmente se ela tiver um motivo forte para isso, mesmo se ela disser "eu estou bem", é bom eu ficar com ela, fazendo companhia, jogando conversa fora, chorando junto se for o caso.
E eu aprendi que quando eu estiver triste por qualquer coisa e alguém me perguntar se eu estou bem, eu vou dizer a verdade. Vou sim.
Porque eu tenho mania de estar bem.
Mas às vezes isso pesa e eu não fico tão bem assim, mas aí eu digo que estou estranha e vai passar. E choro no escuro sozinha. E muito.

A minha mãe tinha um pai, uma mãe, um irmão e uma irmã.
Agora é só ela. Tem a gente aqui, mas da família mater, agora tem ela.

Eu aprendi que eu tenho que valorizar muito mais a minha mãe, o meu pai, as minhas três irmãs e meu irmão, meus cunhados, cunhada, sobrinhos e maridos e namorados de sobrinhos, e a Let, minha irmã adotiva que a gente já não vive sem.
Agradar, abraçar, beijar, ligar, comprar um presente à toa, mandar e-mail, mandar mensagem, ligar, torcer por, vibrar com, chorar com, dar muita risada com.
Porque é só isso que a gente pode fazer, porque um dia todo mundo vai embora, que benção se fosse todo mundo junto e sem sentir dor.

A minha irmã Marília, a mais velha, já nasceu cuidando dos outros. É dela isso.
E ela cuida de TODOS os outros. Se você que está lendo isso, precisar que cuidem de você por qualquer razão, ela cuida.
Ela toma frente, ela vai buscar, ela marca médico, ela paga, ela interna, ela briga, ela dá notícia, ela entra na UTI, ela comemora cada melhora.

Eu não.
Mas eu sei que eu sirvo pra um monte de outras coisas e que eu faço o que eu posso.

Eu aprendi aqui comigo e com esse tanto de irmãs envolvidas nessa história, que cada um tem um limite, um jeito de fazer as coisas, um jeito de ajudar.
Que ninguém... mas NINGUÉM é inútil nessa vida, e que a gente tem que respeitar o nosso limite, tentar ir um pouquinho mais se sentir que dá, recuar se não der, e agradecer. Agradecer por quem consegue ajudar mais. Pedir pra Deus abençoar muito essas pessoas e botar pessoas assim no caminho delas pra o caso delas precisarem de ajuda um dia. E essas pessoas podem ser a gente mesmo, tentando ir além do nosso limite. Precisando de verdade, tenho certeza que a gente consegue.

A minha família é assim. Gruda um no outro quando a coisa aperta. Sempre foi assim. A gente é tudo meio solto, mas quando a gente precisa uns dos outros, Deus do céu, como a gente se ajuda.
Aos olhos de quem vê de fora, pode parecer até estranho.
Muito drama, muito sofrimento por uma tia até então, coadjuvante.
Mas a gente é assim, uai.

E acho que é tão genuíno que os amigos se envolvem e entendem.
Eu confirmei uma coisa que eu sempre soube.
Eu tenho amigos.
Tenho sim.
Em Minas, em São Paulo, na Bahia, em Santa Catarina.
Na Espanha e nos Estados Unidos.
Como me enterneceu receber cada telefonema, cada e-mail, cada mensagem!!!

Ontem eu voltei à casa da Vó Jalé e Tia Lucy.
Eu, minha mãe, e duas das minhas três irmãs.
Muito difícil. Entrar na casa vazia, sem elas, sem a mesa da copa que deu espaço ao caixão no domingo passado.
Mexer nas caixas cheias de papéis e fotos em busca de documentos pra cuidar de inventário.
Lidar com a história de nós todos ali, naquelas caixas.
Você não imagina o que tinha naquelas caixas!!!
Lembrancinhas da primeira comunhão de TODOS os sobrinhos.
Convite de formatura das minhas irmãs da faculdade.
Convite da minha formatura do Jardim da Infância e do Pré-Primário.
Foto minha sentada na escada do quintal da minha casa com a Tia Lucy de pernas cruzadas. Eu com uns três anos, imitando ela que nem tava me vendo sentada uns degraus acima.
Cartão da minha mãe e do meu pai, da viagem deles de lua de mel.
Coisa que a gente não sabia que existia. Tudo ali, guardado.

Aprendi que devo me desapegar de tudo, menos das boas lembranças que qualquer pessoa que marque minha vida possa me trazer.

Vi que de um dia pro outro a gente vai embora porque não tava bem, e deixa isso tudo aí, pra trás, e que as lembranças, as fotos, os cartões, as cartinhas com letra de criança no papel amarelado, a HISTÓRIA, é o que fica. É o que emociona. É o que aquieta o coração.

Pegamos a estrada de noite, as quatro mulheres tão fortes, cada uma lembrando mais histórias e falas daquelas outras duas mulheres tão fortes que fizeram a nossa história de mulheres fortes, iluminadas por uma lua tão grande, tão linda, tão clara que só podia ser coisa delas olhando a gente lá de cima.

Aprendi que o que eu sou, e quem eu vou me tornar, vai depender tão somente das pessoas que passarem por mim, iluminando, aprendendo comigo e me ensinando.

E aprendi que nessa vida, não tem coadjuvante. A Tia Lucy nunca foi coadjuvante, sempre foi tão estrela quanto a Vó, até porque, elas eram praticamente uma.

Cada um de nós, é uma estrela brilhante, iluminada por uma lua como aquela que nos guiou ontem à noite pela estrada afora.