
Hoje de manhã, eu e meu iPod, saímos felizes pra pegar o ônibus.
Ali no ponto tinha duas senhorinhas, cheias de estilo, sentadas nos bancos : uma japonesinha com uma bata colorida, outra bem mais velhinha, de cabelo branquinho e – adoro – de tênis. Nike.
Essa, de tênis, batia um papo animado com uma moça. Eu via, mas não ouvia. Mas gostava. Meu coração fica feliz quando vê moças dando atenção genuína a pessoas mais velhas.
E eu esperava o ônibus de pé, olhando atenta pra tudo o que acontecia à minha volta, people watcher que sou, e dublando sei lá o que que eu ouvia.
A senhorinha japonesa me chamou, tocando delicadamente meu braço. Tirei o fone do ouvido, sorri, me abaixei e ela disse: “Senta, querida… o ônibus tá demorando!”.
Eu respondi, enternecida: “Aaaaah, obrigada!”. Sentei ao lado dela e desliguei o iPod, mas ela nem queria conversa assim… ela queria só… ser gentil.
O ônibus demorou, mas chegou.
Entramos todas, e duas paradas mais tarde, entrou outra senhorinha de idade.
Poooodre de chique.
Com brincão, colarzão, oclão, batonzão.
Bancos ocupados.
A velhinha de tênis e cabelinho branco, se levantou imediatamente pra dar lugar pra esta última que entrou, e que era visivelmente mais jovem.
Por esta razão talvez, ela custou a aceitar. “Deixa disso, estou bem."
“Mas eu desço no próximo ponto, faço questão, deixa disso você”.
E ela sentou, e a de cabelinho branco desceu no mesmo ponto que eu, deixando pra trás a senhorinha chique confortavelmente sentada, sem abalar um milímetro a paz dos outros jovens passageiros desprovidos de gentileza e respeito que não cogitaram oferecer lugar algum.
E lá fomos nós, eu e a velhinha de tênis, que gentilmente sorriu pra mim quando a gente teve que se separar.
Outro dia no supermercado eu quis que um senhorzinho - Sr. Alexandre - passasse na minha frente na fila, e ele não quis de maneira nenhuma.
Disse que as damas vão sempre primeiro.
Eu, a dama, fui na frente dele, satisfeita.
E eu hoje sorri de volta aliviada para a velhinha de tênis, por saber que as velhinhas e os velhinhos, pelo menos eles, nunca se esquecerão do valor de uma gentileza, mesmo que o mundo não seja gentil com eles o tempo todo, por mais longo que esse tempo todo seja. Muito mais do que a distância entre um ponto de ônibus e outro, ou a fila de um caixa de supermercado.